Quarta matéria da série sobre a Indústria 4.0 destaca o Plano Indústria 10+, iniciativa dos trabalhadores pensando na retomada industrial brasileira
O movimento sindical, através de uma articulação conjunta com diversas entidades e instituições, construiu um plano pensando na retomada da indústria nacional nos próximos dez anos, o Plano Indústria 10+. Conjunto de diretrizes e propostas para o desenvolvimento produtivo, tecnológico e social do Brasil, o estudo foi realizado pelos dirigentes do Macrossetor da Indústria da CUT, IndustriALL-Brasil e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, com a contribuição de professores da USP, Unicamp, UFABC, UFRJ, UFRB, FGV e USCS e dos técnicos do Dieese, além de outros atores sociais.
O período de dez anos foi escolhido por ser, na avaliação dos sindicalistas, um momento decisivo para definir o futuro da indústria nacional, principalmente com o agravamento da desindustrialização nos últimos anos e o crescente isolamento do Brasil das cadeias produtivas internacionais. Num cenário em que o país ainda possui muitas deficiências para serem corrigidas no caminho pleno da Indústria 4.0, a iniciativa revela que os trabalhadores estão atentos ao momento da indústria e querem ser um pólo ativo na atualização do setor.
Segundo a coordenadora do Macrossetor da Indústria da CUT, e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Vestuário da CUT (CNTRV), Cida Trajano, o Indústria 10+ é um plano em constante atualização e sempre leva em conta a conjuntura política, econômica e social do país para nortear as ações.
“Podemos dizer que hoje dois pontos destacados do plano, dada a conjuntura do país, são a reindustrialização a partir das missões sociais, e o complexo da saúde”, afirma Cida. “Entendemos que o processo de reconstrução da indústria se dá em várias fases e observando todo o cenário industrial brasileiro, pensando tanto nas grandes como nas micro e pequenas empresas e, principalmente, pensando de que forma a indústria possa atender as necessidades da sociedade como um todo”, completa a dirigente.
O documento resume em 9 pontos principais as orientações para a retomada da indústria brasileira, que seriam os seguintes:
1. Gerar empregos de qualidade, com políticas que reduzam as desigualdades no mercado de trabalho;
2. Garantir um processo consistente de inovação e modernização tecnológica;
3. Atender a necessidades fundamentais da sociedade brasileira (missões);
4. Promover o readensamento e sofisticação das cadeias produtivas de valor;
5. Política industrial alinhada com a preservação do meio ambiente, com a transição justa para trabalhadores, trabalhadoras e comunidades afetadas;
6. Garantir transparência e controle social nas políticas públicas para a indústria;
7. Universalizar as políticas de educação e formação profissional com qualidade;
8. Promover o desenvolvimento industrial regional, o desenvolvimento dos pequenos negócios e o cooperativismo;
9. Políticas macroeconômicas e tributárias alinhadas ao desenvolvimento industrial e Estado articulador, Política externa soberana e que promova a indústria nacional.
SAIBA MAIS
Boa receptividade
As ideias apontadas no documento foram incorporadas pelas centrais sindicais e colocadas na pauta dos trabalhadores entregue ao novo governo Lula. Além de estar na pauta das centrais, o plano também foi apresentado a entidades ligadas de forma direta ou indireta à indústria. Entidades patronais também receberam as propostas e acenaram positivamente às ideias.
“As propostas foram muito bem aceitas pelo governo”, afirma o Secretário de Formação da CNM/CUT, Renato Carlos de Almeida. “Recebemos muitos elogios, mas agora temos que avançar para a implantação das ideias.
Quanto ao empresariado, relata o dirigente, existe uma concordância com relação às missões sociais, às questões ambientais, e que agora é necessário que os patrões possam investir de verdade nas ideias.
“Hoje o Brasil é um país que exporta muita matéria-prima para o mundo e importa muitos produtos manufaturados. Exportamos baixa tecnologia e importamos alta tecnologia. Queremos ter mais condições de exportar materiais de alto valor tecnológico”, afirma Almeida. “Com isso, o trabalhador poderá ter acesso a um trabalho melhor remunerado, com alta tecnologia, respeitando o meio ambiente e fazendo a economia do país girar como um todo”, finaliza.
A última reportagem da série trata do futuro da Indústria 4.0: qual lugar que o Brasil pode ter dentro da economia mundial se conseguir desenvolver suas potencialidades tecnológicas na indústria? Seremos referência na produção de algum produto ou tecnologia? E a sociedade, poderá finalmente resolver seus problemas de desigualdade, com empregos melhores, mais educação?
Escrito por: Redação CNM/CUT