Entidades sindicais fortaleceram também a defesa do plebiscito que percorre o estado de SP para ouvir a opinião da população sobre a venda de empresas estatais

A greve realizada na terça-feira (3) por metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp trouxe a público o debate sobre a luta contra a privatização das empresas públicas, as condições de trabalho dos servidores e a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população.
As entidades sindicais fortaleceram também a defesa do plebiscito que percorre o estado de SP para ouvir a opinião da população sobre a venda de empresas estatais. O governador Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos, foi pressionado a promover uma consulta popular sobre a privatização do Metrô, da CPTM e da Sabesp.
As categorias decidiram pelo fim da greve, mas seguem mobilizadas. Os metroviários aprovaram uma nova assembleia na próxima segunda-feira (9), para desdobrar quais serão as novas mobilizações.
Para o metroviário Marcos Freire, a ideia defendida pelo governo, liderado por Tarcísio, de que a privatização é a melhor alternativa, juntamente com concessões e terceirizações, é uma falácia. Ele destaca que diversos especialistas e estudos demonstram que há um significativo desperdício de recursos públicos nas empresas privadas que administram o transporte público, com destaque para a CCR, que é vista como um dos principais vilões nesse processo. Freire caracteriza a CCR como um “tubarão que abre sua boca para engolir as empresas estatais, levando muito dinheiro das empresas públicas”.
Freire critica as tentativas de justificar as privatizações, frequentemente baseadas em argumentos sobre altos salários dos funcionários e a ineficácia das empresas públicas. E questiona o impacto das privatizações na qualidade do serviço e no valor oferecido aos passageiros. Como exemplo, aponta os problemas nas linhas 8 e 9, que são administradas pela ViaMobilidade, destacando problemas recorrentes de manutenção, trens quebrados e vias com problemas. “Eles não têm um pessoal qualificado para trabalhar naquelas áreas. O pessoal da zona sul tem sofrido muito. E o governador defende que esse modelo privatizado se espalhe por São Paulo”, lamenta.
Da mesma forma, Vinícius Morgado, do grupo ‘Integração Metroviária’, expressa sua oposição à privatização do sistema de transporte público do estado de São Paulo, em especial do Metrô, que ele descreve como um dos cinco melhores serviços do mundo, caracterizado por sua excelência e atendimento de qualidade.
Morgado aponta “repasses milionários” feitos pelos governos estaduais em São Paulo à empresa CCR, utilizando recursos dos contribuintes, incluindo o dinheiro da passagem e dos impostos. Ele alega que o Metrô tem sido usado para subsidiar os lucros de grupos empresariais que detêm o monopólio dos transportes no estado, abrangendo trilhos, metrô, portos, aeroportos e rodovias.
O metroviário destaca que o governo recentemente garantiu um repasse de R$ 380 milhões para garantir o lucro desses empresários. E critica a privatização por entregar o patrimônio público construído com dinheiro dos contribuintes a preços muito baixos para esses empresários.
Morgado também fala dos problemas recorrentes no serviço de transporte, como falhas, incêndios e acidentes, que afetam negativamente a população. E enfatiza que a greve e o movimento não visam apenas proteger os empregos das famílias que dependem do serviço público, mas também defender os interesses da população.
O metroviário chama a atenção para a necessidade de consultas à população por meio de plebiscitos, destacando que uma pesquisa mostrou que 45% das pessoas no Brasil são contra as privatizações. Para ele, o governo deve servir à população, em vez de atropelar sua vontade em favor de interesses empresariais.
Operando sob risco
Ao longo da greve, os sindicatos que representam os trabalhadores e trabalhadoras da CTPM receberam diversas denúncias de coação e assédio praticadas por diretores da companhia de transporte na tentativa de forçar o funcionamento dos trens. Ainda na madrugada de terça, a gestão Tarcísio de Freitas recrutou funcionários sem rotina de operação para conduzir algumas composições, de forma precária, colocando vidas em perigo.
Tal situação gerou risco de acidente, como o que ocorreu na estação Rio Grande da Serra, quando um dos supervisores que operava um dos trens quase atingiu um carro particular. No local, um trecho da linha férrea também é utilizado para passagem de pedestres e carros, em acesso controlado por cancelas.
“A greve foi um sucesso, com adesão dos trabalhadores que já estavam descontentes com as declarações do governador de que somos maus profissionais e bem pagos, e que somente a privatização traria melhoras. A CPTM até tentou furar a greve, com duas linhas operando parcialmente, mas por incapacidade técnica, até mesmo a linha privatizada da ViaMobilidade parou”, disse Múcio Alexandre Bracarense, secretário-geral do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil.
De acordo com o dirigente, o plebiscito popular que circula pelas cidades tem tido bons resultados, ajudando a formar a opinião da sociedade acerca dos perigos que a entrega dos serviços essenciais à iniciativa privada poderá trazer, como a falta de investimentos em regiões mais periféricas, aumento de tarifas e precarização de trabalho.
A CUT e seus sindicatos estão mobilizados por todo o estado de São Paulo com urnas itinerantes onde as pessoas podem depositar o voto dizendo se é contrário ou não às privatizações.
Para o presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart, a paralisação organizada pelos três sindicatos fortalecem a luta atual, ao ajudar a pautar a questão na opinião pública. “Vamos vencer mais essa batalha contra a privatização do sistema de água e do transporte sobre trilhos no estado de São Paulo. Tarcísio age de forma intransigente ao não dialogar com a sociedade e apresenta interesses escusos para atender os seus financiadores de campanha”, afirma.
Luta na Sabesp
No dia de luta, as unidades da Sabesp em todo o estado de São Paulo permaneceram fechadas por 24 horas, com a realização de piquetes nas entradas, organizados pelos trabalhadores e trabalhadoras. O Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do estado de São Paulo (Sintaema) também promoveu uma caminhada no fim da tarde de terça-feira, próximo ao Complexo Ponte Pequena, no Bom Retiro, região central da capital paulista, onde funciona parte da sede administrativa da companhia.
No primeiro semestre deste ano, o governo de São Paulo autorizou a contratação de estudos que defendem a venda da Sabesp, tudo pago com dinheiro público.
Dentre as muitas críticas contrárias à privatização, está o fato de a Sabesp não ser uma empresa deficitária há 20 anos. Pelo contrário, a empresa devolve R$ 500 milhões por ano em forma de dividendos aos cofres do estado. Já com a venda, o governo terá de subsidiar a vencedora do leilão.
Parlamentares contra a privatização
Na terça-feira (3), o deputado federal Guilherme Boulos se pronunciou em relação à greve que paralisou o Metrô e a CPTM em São Paulo. “A intransigência do governo de SP é a grande responsável pela greve de hoje no Metrô/CPTM. Os trabalhadores propuseram em juízo liberar as catracas em vez da paralisação, para não prejudicar os usuários. O governo estadual recusou a proposta. Apostou no conflito e não no diálogo.”
Nesta quarta-feira (4), o deputado voltou a criticar o governo em decorrência de uma nova falha no sistema elétrico na Linha 9-Esmeralda. “Mais um dia começando com falha nos trens da ViaMobilidade. No primeiro ano de operação, as linhas privatizadas registraram 166 falhas. É mais de um terço do ano com o povo sofrendo com as paralisações no transporte.”
Em São Paulo, a bancada de deputadas e deputados estaduais formada pelos partidos PT, PCdoB e PV demonstrou apoio à paralisação unificada dos trabalhadores do Metrô, Sabesp e CPTM em São Paulo, criticou a falta de disposição do governo de São Paulo em dialogar com os trabalhadores, apontando uma postura autoritária e intransigente.
Os parlamentares repudiaram as tentativas do governador Tarcísio de Freitas de criminalizar as entidades sindicais e destacaram a importância de alertar a população sobre os impactos negativos e os prejuízos que as privatizações e as concessões de serviços públicos podem acarretar para a sociedade como um todo.
Da CUT SP