Boletim elaborado pelo Dieese, com base nos dados do IBGE, aponta leve melhora de indicadores de 2022 para 2023, porém é necessário avançar para garantir melhorias estruturais
*Redação CUT/SP
As mulheres negras representam 28% da população do país, totalizando 60,6 milhões. Os dados do boletim “Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes”, divulgado pelo Dieese em março deste ano, reforçam que a realidade desigual do machismo e racismo também perpassa para o universo do trabalho.
“Elas enfrentam a chamada “dupla discriminação”, onde são discriminadas tanto por serem mulheres quanto por serem negras, o que agrava suas condições de trabalho e oportunidades de avanço”, analisa Anna Paula Pinheiro dos Santos, Técnica do Dieese na Subseção dos Metalúrgicos do ABC.
Neste 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, é fundamental entender o cenário dessas mulheres com o recorte de raça e gênero.
“Falar do dia 25 de julho é entender que ainda temos muito o que avançar, muito o que fazer e ainda resistimos todos os dias ao racismo. Então, é falar do bem viver dessas mulheres negras, e esse bem viver é vasto”, comenta Rosana Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP.
As mulheres pretas ocupam o primeiro lugar na taxa de desocupação, com 11,1% no quarto trimestre de 2023, segundo o boletim com base nos dados do IBGE. Apesar da queda de quase 1% se comparado ao mesmo período de 2022, o número de mulheres negras fora do mercado de trabalho ainda soma um total de 2,865 milhões.
Quando elas conseguem um trabalho, encaram outra barreira: a subutilização, que diz respeito à insuficiência de horas trabalhadas. Portanto, as mulheres negras trabalham menos do que precisam, com jornadas e salários menores. Entre os dois trimestres analisados, a taxa de subutilização entre as mulheres pretas cresceu de 7,0% para 7,3%.
O Brasil vem em uma retomada na geração de empregos com carteira assinada no governo Lula. No primeiro trimestre de 2024, mais de 700 mil vagas CLT foram criadas, um aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2023. Houve uma redução de 1% na informalidade para as mulheres negras, passando de 42,2% para 41,0%, no 4º trimestre de 2023. A queda é positiva, mas a luta pela melhor qualidade de trabalho persiste.
“Elas vivem dupla ou tripla jornada no dia a dia, tendo que dividir o tempo entre trabalho, organização da casa e cuidado com os filhos, para não receberem um salário compatível com suas atribuições, por isso acabam se inserindo em empregos informais, por não conseguirem se inserir na lógica de trabalho vigente”, avalia a técnica do Dieese, Anna Paula.
Diante desses desafios, é importante fazer com que os projetos de promoção da igualdade racial cheguem à população preta periférica. É o que defende a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Silva. “Precisamos potencializar as mulheres que estão nas periferias, que estão fora dos grandes centros, para que elas tenham condições de acessar os serviços, tanto na saúde, tanto na educação, tanto na questão de moradia, como em outras frentes”, pontua.
Neste sentido, os sindicatos e centrais sindicais têm um importante papel para apoiar a conscientização racial. “É necessário campanhas permanentes no local de trabalho para o combate ao racismo, para incentivar a inclusão das mulheres negras nos cargos de gerência e diretoria”, completa Rosana Silva.
Dados relevantes do boletim:
- 49,4% é a proporção de mulheres negras ocupadas que recebiam até 1 salário mínimo, no 4º trimestre de 2023;
- As mulheres negras se concentraram nas faixas de rendimentos menores: 59,2% recebiam até R$ 1.500 no 4º trimestre de 2023;
- Das ocupadas negras com rendimento de até R$1.216, 40,9% trabalhavam por conta-própria.